segunda-feira, 10 de junho de 2013

Melissa

Todo domingo era missa. Todo feriado religioso era missa. E toda missa tinha ela. Tinha ela e eu com meus oito anos de idade já com o coração saltando pela boca. Me sentava no primeiro banco da terceira fileira da esquerda pra direita no último canto possível. Meus únicos dois focos eram a banda que tocava e a coroinha que sempre estava ao lado do padre.
Olhava pra banda e ficava encantada com aquele parque de diversões. Mirava a coroinha e meu pulso passava das duzentas batidas por minuto. Achava ela muito bonita. Tinha vontade de cair nos braços dela, e ficar conversando sobre a vida, sobre os sentimentos e sobre minhas dúvidas durante horas. Dúvidas que naquela época eu encarava mais como algo corriqueiro. Coisa de criança achar que não existem tantas regras exacerbadas que nos impedem de fazer coisas que gostamos. Mas, eu olhava o máximo que pudia e esperava um olhar de resposta. E quando ele vinha, meu amor, me arrepiava dos pés a cabeça e qualquer som que acontecia no momento entrava num estado infinito de reverberação. Me satisfazia com um pequeno passar de olhares pelos meus.
Pausa. Suspensa no ar. Como uma música do Donny Hathaway. Estava me apaixonando pela primeira vez sem nem saber o que era isso. Só descobri após alguns anos em muitas das minhas reflexões diárias sobre amor e paixão. Aquele frio na barriga me atacou pela primeira vez quando tinha oito anos. Eram só oito anos e eu ainda gostava de me sujar pela rua. Que deselegância e falta de respeito me sabotar assim.
Nunca descobri o nome dela. Menina branca de cabelo liso e preto. Olhos de gato. Tinha rosto e corpo de Melissa. E tinha o poder de roubar toda minha atenção. Me sentia uma aventureira por estar mergulhando num romance mal entendido como aquele. Num romance que mal sabia como era a voz dela ou o que ela fazia nas tardes em que eu (como sempre) me recusava a fazer as lições de casa.
Agradeço de todo meu coração por ela ter me oferecido aquelas sensações que eu mais tarde viria a sentir outras vezes. Acho que se não fosse por ela...

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