segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Sempre nas nossas conversas longas e divertidas, consigo me encontrar entre um e outro riso teu. Me afogo no seu pescoço e colo meu corpo no seu mundo. Minha passagem é livre porque você nunca me diz não. Enquanto eu puder navegar nos teus olhos, você nunca vai me dizer não.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Todo dia arrumo minha cama quando acordo, faço o café da manhã que você estaria fazendo pra mim, agradeço a Deus e a toda espiritualidade por estar respirando, faço todas minhas obrigações burocráticas, resolvo as suas pendências, imagino a preguiça que você deve estar em todos os minutos em que estou trabalhando, vou até o outro lado da cidade pra buscar um pão pra comer, tomo banho, lavo meu cabelo, seco o banheiro na hora quando termino, ponho a roupa pra lavar do jeito que você me explicou, desço uma escada ridícula e estendo a roupa lá embaixo, penso o quanto a vovó está feliz de ter você perto, escovo meus dentes, guardo todos os sapatos, dou bronca no meu irmão por ser folgado, não deixo minhas roupas espalhadas por aí e nem tento minhas artimanhas na cozinha. Mas mãe, mesmo assim, esse monstro dentro de mim ainda não quer sair. O que eu tenho que tomar? Chá? Remédio? Fazer inalação? Tomar injeção na bunda e desmaiar de novo? Ele não vai embora, mãe. Ele insiste em ser como eu. Não tenho mais forças pra ir contra ele. Só aceito que ele não vai sair de mim, e se ele quiser ficar, vai ter de ficar em equilíbrio. Uma faculdade para ganhar dinheiro, um emprego com um chefe estúpido sem nenhum senso de humanidade, satisfazer a vontade da minha família paterna e ser uma pessoa mesquinha e vazia: tudo isso renunciei por ele. E ao responder pras suas amigas que sua filha faz música e não direito, engenharia, medicina como os filhos delas, te faz entrar em equilíbrio com ele também. Por certo, é por causa disso que você ainda não me levou em um médico e nem me ofereceu um chá. E em toda solução que você me propõe é entrar em calma e manter equílibrio. Mãe, você já sabia que ele existia, não é mesmo? Você só me deixou descobrí-lo sozinha, mãe. O que é muito perigoso. Mas nada muito impressionante diante do jeito que você me cuida,e também cuida dele, mãe.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Deita no meu ombro.
Segura minha mão.
Caminha seu olfato pelo meu cheiro.
Sempre diz o quanto gosta dele.
Quando diz coisas engraçadas.
Me mato de rir.
"Ai, ai, como você é engraçada" e te dou um beijo.

Entenda meu amor: as pessoas com frequências semelhantes se unem. As dissonantes, se afastam. Não conseguem mais ficar juntas. Não há como. Entenda isso, por favor. Você saiu da minha frequência há muitos carnavais. É tanto que você ficou por lá. Lá naquele carnaval em que o sol batia tão forte nos ombros. Hoje, sou uma nova pessoa. Cresci alguns centímetros e minha pele está mais escura. Meu grau aumentou. E você ainda continua nessa babaquice de usar seu óculos só na aula. E você ainda continua nesse carnaval que toca Beleza Rara. Mas, era tão bonito. Eu lembro. Você me mostrava sempre o quanto gostava dessa música. Parecia que ela te levava pra longe... E eu ficando aqui "volta! volta! não vá embora! eu ainda preciso de você!". Agora, meu bem, está tão distante de mim. Se não nos encontrássemos mais na minha cabeça, iria sentir falta de você. Tantas pessoas acham que você foi embora, mas eu ainda te vejo. Te vejo e te escuto. Minha criança. Tão clara e feliz. Queria voltar a ser você.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Pés no chão.

Andando de bicicleta pelo conjunto que morei por 3 anos, me dei conta que tanta coisa mudou.
Eu, minha cabeça, meu cabelo, meu corpo. A cada dia que passa minha miopia piora. A fachada das casas do conjunto mudam. É uma reforma diferente conforme vão passando os anos. Os buracos ficam mais fundos. E as pessoas mal saem nas ruas. Ninguém sabe quem é quem. E foi nessa corrente de pensamentos que percebi que nunca mais vou conseguir contato com uma velha amiga. Passei de rua em rua procurando a fachada da casa mais semelhante com a fachada da casa que existia na minha cabeça. E nada, e nada, e nada. Nem nada. Tudo diferente. Isso ia me causando um desespero porque eu queria tanto saber se ela ainda estava naquela casa. Mesmo que eu nem tocasse a campainha. Só queria ter certeza de que ela estava lá e assim alimentar uma chance de, talvez, encontrá-la. Agora, vai saber... Será que ela casou? Teve filho? Saiu da casa da tia? Reencontrou a mãe dela que morava no Rio de Janeiro? O que será que aconteceu com ela, pelo amor de Deus? Alguém sacia essa minha dúvida. Alguma coisa tem que me tirar desse desespero de não saber mais da vida dela. O pior: não ter mais nenhum tipo de contato com ela. Parei com a bicicleta no meio da rua. Fiquei mais de cinco minutos parada, olhando a areia, os meus pés, deixando o vento me açoitar e me veio a triste conclusão - assim como você tem certeza que sua mãe é sua mãe e que seu amor por ela é o maior que você possa ter sentido na sua vida - de que eu, realmente, não iria mais vê-la, e o máximo que eu poderia fazer era pensar nela, e estabelecer algum contato por algum tipo de fluido. É isso: eu amo muito a minha mãe e eu nunca mais vou ver minha velha amiga.