terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Todo dia arrumo minha cama quando acordo, faço o café da manhã que você estaria fazendo pra mim, agradeço a Deus e a toda espiritualidade por estar respirando, faço todas minhas obrigações burocráticas, resolvo as suas pendências, imagino a preguiça que você deve estar em todos os minutos em que estou trabalhando, vou até o outro lado da cidade pra buscar um pão pra comer, tomo banho, lavo meu cabelo, seco o banheiro na hora quando termino, ponho a roupa pra lavar do jeito que você me explicou, desço uma escada ridícula e estendo a roupa lá embaixo, penso o quanto a vovó está feliz de ter você perto, escovo meus dentes, guardo todos os sapatos, dou bronca no meu irmão por ser folgado, não deixo minhas roupas espalhadas por aí e nem tento minhas artimanhas na cozinha. Mas mãe, mesmo assim, esse monstro dentro de mim ainda não quer sair. O que eu tenho que tomar? Chá? Remédio? Fazer inalação? Tomar injeção na bunda e desmaiar de novo? Ele não vai embora, mãe. Ele insiste em ser como eu. Não tenho mais forças pra ir contra ele. Só aceito que ele não vai sair de mim, e se ele quiser ficar, vai ter de ficar em equilíbrio. Uma faculdade para ganhar dinheiro, um emprego com um chefe estúpido sem nenhum senso de humanidade, satisfazer a vontade da minha família paterna e ser uma pessoa mesquinha e vazia: tudo isso renunciei por ele. E ao responder pras suas amigas que sua filha faz música e não direito, engenharia, medicina como os filhos delas, te faz entrar em equilíbrio com ele também. Por certo, é por causa disso que você ainda não me levou em um médico e nem me ofereceu um chá. E em toda solução que você me propõe é entrar em calma e manter equílibrio. Mãe, você já sabia que ele existia, não é mesmo? Você só me deixou descobrí-lo sozinha, mãe. O que é muito perigoso. Mas nada muito impressionante diante do jeito que você me cuida,e também cuida dele, mãe.

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